domingo, 20 de maio de 2012

RUY VENTURA - DE ZENON P/MARGUERITE YOURCENAR


[de Zénon p/ Marguerite Yourcenar]

não existe passagem.
nesta barca dissolverei
a parte branca do caminho
no forno que hoje regressa
à temperatura do teu corpo.
em que tear irei tecer de novo o horizonte?
percorro a mina, o fogo e a fogueira.
encontro no odor do campo
um pouco de saliva.
a cicatriz permanece
apesar do nome.
a ferida corrói a alma.

respiro o sopro do oriente.
transfiguro o ouro em madeira –
como essa flor que nasce na lanterna.
atravessarei a ponte
pela última vez
sem ver que a água reflecte
um rosto estranho.
nada reconheço na paisagem e no medo.
apenas o calor no cume da montanha.

o sereno acorda-nos.
em que século ficou
a última página
desta língua que enegrece?
a saliva congela.
percorro a mina, o fogo.
encontro a fogueira.
não existe passagem.
a barca apodrece.
RUY VENTURA

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