sábado, 26 de março de 2011

FREGUESIA DE ERICEIRA

REGIÃO               lisboa
SUB  REGIÃO   grande lisboa
DISTRITO         lisboa
CIDADE            mafra
Freguesia Ericeira

















História da Vila da Ericeira


Vila muito antiga, presumivelmente local de passagem e instalação dos Fenícios.
"A povoação da Ericeira teve o seu primeiro documento foral em 1229, concedido por D. Frei Fernão Rodrigues Monteiro, Mestre da Cavalaria e Ordem Militar de S. Bento de Aviz", reformado pelo rei Manuel I, em 1513.

"Os forais tinham por objectivo principal regulamentar o direito público local, definindo e regulamentando as relações do concelho perante o poder régio e com o senhorio a que estava ligada a localidade" (...) "Os costumes das povoações não só eram importantes sendo introduzidos no respectivo foral (...) fazendo lei nesse local. Os costumes tinham força de verdadeiras leis escritas."

A população, noutros tempos constituída na generalidade por gente do mar, formou durante muitos séculos um grupo étnico geográfico, denominado Jagoz, diferenciado dos restantes habitantes da região saloia.

A Ericeira conheceu no século XIX a sua época áurea, tendo sido o porto mais concorrido da Estremadura, com alfândega, por onde se fazia o abastecimento de quase toda a província.



É igualmente conhecida por “Pedra Branca”.
É essencialmente frequentada por Surfistas e Campistas que estão de passagem pela nossa terra, é uma praia onde não há qualquer apoio de praia, onde o mar é agitado e perigoso para quem não sabe nadar.


Praia de Ribeira D'Ilhas
Dizem os entendidos que é a melhor praia para a prática do surf na Europa, a “Meca do Surf Europeu”.
Aqui já se realizaram vários campeonatos de Surf.
É visitada por milhares de pessoas para a prática do surf, aqui vêm muitos surfistas amadores, profissionais, portugueses e estrangeiros. Quem não a conhece vem pela curiosidade de descobrir o que tem de especial. Muitos desses visitantes voltam. Para muitos surfistas da Ericeira e arredores, esta praia é a “sua casa”. É uma praia com bons acessos, com estacionamento, com um bar de apoio à praia, na época balnear é uma praia com vigia.


Localizada no lado norte do Pontão, após a Praia dos Pescadores, diz-se que era a praia mais frequentada pelos habitantes da Ericeira, pelo “jagoz natural”. Aqui desaguava o rio Calvo.
Com certas condições de mar esta é também uma praia seleccionada pelos surfistas. É uma praia com bons acessos e com apoio de praia. O estacionamento é limitado sendo uma das alternativas o Largo de S. Sebastião.
É vigiada na época balnear.


Praia do Ali Babá
Pensa-se que foi nesta praia que há muitos anos atrás atracou um navio com um senhor de nome Ali Babá.
Diz-se que foi aqui que este escondeu o seu tesouro e que até hoje nada foi encontrado. A lenda diz que o ouro que Ali Babá trouxe deverá ter derretido, pois em nenhuma outra praia do mundo se encontra a areia tão dourada.


O embarque para o exílio da família real portuguesa, episódio que assinala o termo do regime monárquico nacional, fará sempre do porto da Ericeira um dos locais mais dramáticos da geografia do concelho de Mafra.

As praias e os pesqueiros, bem assim como o património monumental e o gastronómico, com base numa variedade de peixes e mariscos, constituem os seus maiores atractivos.

Reza a lenda que o nome Ericeira significa, na origem, "terra de ouriços", devido aos numerosos ouriços-do-mar que abundavam nas suas praias. Investigações recentes apontam o ouriço caixeiro e não o do mar como inspirador do nome.
Com a descoberta de um exemplar do antigo brasão da Vila, hoje no Arquivo-Museu da Misericórdia, confirmou-se que o animal ali desenhado é, de facto, um ouriço caixeiro, espécie que evoca a deusa fenícia Astarte.

Praia da Empa

É igualmente conhecida por “Pedra Branca”.
É essencialmente frequentada por Surfistas e Campistas que estão de passagem pela nossa terra, é uma praia onde não há qualquer apoio de praia, onde o mar é agitado e perigoso para quem não sabe nadar.


Praia do Forte
Praia com o Forte de Milreu por cima das suas arribas.
É uma praia onde a sua beleza natural impera. Por ter difíceis acessos, é uma praia bastante calma e ideal para quem não quer ser incomodado por ninguém, esta praia não têm qualquer apoio de praia e não é vigiada.


Praia do Matadouro

Esta praia situa-se em frente ao Parque Campismo da Ericeira.
É uma praia muito calma e segura, que tem uma grande laje à sua frente, onde com a maré vazia faz uma grande piscina, de maré-cheia não é quase possível tomar banho devido às suas rochas.
É uma praia calma mas tem o seu ponto fraco relacionado com os problemas da erosão das arribas.
É também procurada por surfistas


Praia do Sul e Praia da Baleia


Praia onde, a partir do século XIX, iam “a banhos” os visitantes mais ilustres da Ericeira.
Localizada no extremo sul da Ericeira, é a praia mais genuína e conhecida de todas as pessoas que visitam a nossa vila.
 
Diz-se que era a “praia da barraca azul e branca, do banheiro castiço, da vendedora da batata frita e da tia e do tio”.
É uma das praias com maior areal na Ericeira, onde na preia-mar em pleno Verão ainda consegue suportar um elevado número de banhistas.
Na época balnear é vigiada e é possível arrendar toldos e barracas. Segundo a Carta do Património da Freguesia da Ericeira, documento editado pela Câmara Municipal de Mafra, em 1961, “a praia do Sul albergava durante a época estival cerca de 800 barracas”. Actualmente, o cenário é marcadamente diferente.
As suas arribas elevam-se em 30 e 40 metros. Estão “forradas” com uma rede própria de modo a prevenir e diminuir os efeitos da erosão litoral.
Tem estacionamento no lado sul e no lado norte. Tem dois estabelecimentos (restauração, ambos com esplanada) permanentes e mais um apoio de praia na época balnear.
Na imagem é possível ver a Praia da Baleia (lado sul), com uma protecção rochosa, que forma uma baía muito apreciada pelos mais novos e não só que aí podem brincar à vontade e nadar, mesmo com a maré um pouco agitada. Com a maré vazia fica praticamente sem água.
Praia dos Pescadores
Também conhecida por Praia da Ribeira e Praia do Peixe, é das praias mais frequentadas no Verão.
O seu pontão permitiu que se formasse uma baía que atrai muitas pessoas que gostam do mar calmo.
As suas arribas elevam-se em cerca de 25 metros. Estão reforçadas artificialmente e no cimo, forma-se uma grande "varanda" para o Oceâno Atlântico, este é o "Muro das Ribas"

Esta praia já acolheu acolheu vários episódios da história da Ericeira, o mais emblemático está relacionado com o embarque da família real, a 5 de Outubro de 1910.
Constitui o primeiro acesso ao mar das comunidades piscatórias da Ericeira, em torno do qual a vila se formou.
Só lhe foi atribuída a classificação de praia de banhos na segunda metade do século XX, até esse momento era porto de chegada e de partida das embarcações, palco de compra e venda de peixe, lugar de preparação para a faina do mar.
È nesta praia que, na festa da Nossa Senhora da Boa Viagem, à noite, os barcos iluminados “vão ao mar” e formam um espectáculo de luzes quando se juntam na baía (dependendo das condições do mar).
Na época balnear é vigiada. Tem apoio de praia, chapéus de palha, espreguiçadeiras e equipamento para banhos para pessoas com necessidades especiais.
Praia S. Sebastião
Esta praia deve o seu nome à capela que se encontra no largo, na entrada da praia.
A beleza natural desta praia deve-se a sua arriba. O seu acesso é feito por umas escadas relativamente íngremes onde existe uma pequena fonte e uma “varanda” a meio do seu percurso.
É uma praia muito querida e frequentada pelos surfistas da Ericeira

Igreja Paroquial de São Pedro

A igreja paroquial, outrora situada num ermo a Noroeste da vila (considerada ainda distante no séc. XVII), hoje está completamente enquadrada pela malha urbana que se desenvolveu a partir da segunda metade do séc. XVIII.
Da sua fundação nada se sabe em concreto, somente que foi filial da igreja matriz de Santo André de Mafra (tal como a sua congénere de Santo Isidoro). No entanto surge-nos um documento datado de 1446, emanado da chancelaria do arcebispo de Lisboa, D. Pedro de Noronha, concedendo a faculdade de ter pia batismal em consequência de um processo litigioso com os beneficiados da matriz; aliás, as relações entre estas duas partes foram sempre muito difíceis, mesmo em épocas posteriores, o que revela uma característica de disputa entre as vilas da Ericeira e Mafra que ainda hoje se manifesta como uma verdadeira expressão cultural.

A primitiva capela de S. Pedro deve ter estado situada num local próximo da actual pia batismal, visto existir na parede (do lado esquerdo) um pequeno armário emoldurado com uma cantaria provavelmente da época de D. Manuel ou pouco anterior. Sabe-se, contudo, que foi sucessivamente ampliada a partir de 1648, havendo ainda obras a decorrer em 1693 (segundo as visitações paroquiais). As obras ficaram concluídas só na primeira metade do séc. XVIII, visto em 1745 ter sido lavrado o contrato com o mestre entalhador Matias José de Faria, de Lisboa, para executar o trabalho de madeiras do retábulo e nas ilhargas. O contrato, além de prever um custo de 8000 cruzados, previa também uma cláusula especial no que toca ao mestre, não se responsabilizando este pelo não cumprimento dos prazos no caso de ser chamado pela Casa Real a trabalhar noutro local.
Antes do começo das obras do retábulo do altar-mor, deve ter havido bastante polémica na vila, uns querendo que fosse executado em talha e outros em cantaria (o que montaria uma elevada soma). Para solucionar esta polémica o visit ador mandou que obra fosse de cantaria, até porque havia muita mão de obra (e de qualidade) devido à construção do Palácio Real de Mafra. No entanto, não se veio a registar esta solução, optando-se por uma forma mista: a base em pedra e a parte superior em madeira entalhada. Para o douramento e pintura da madeira contratou-se o mestre Manuel António de Góis, que já trabalhara na pintura dos altares e tectos da Misericórdia, adjudicando-se a obra para um prazo de nove meses e pela quantia de 900000 reis.
Já na segunda metade do século passado a igreja sofreu outras alterações, tendo sido ampliada sobre o alpendre, suprimindo-se o mesmo e transferindo-se para a sacristia o altar em honra de Nossa Senhora do Monte Carmo (até aí no exterior, abrigado sobre o referido alpendre).
Nesta igreja existiram numerosas confrarias, das quais apenas salientamos algumas: Nossa Senhora da Conceição, S. Pedro, Nossa Senhora do Rosário, Almas, S. Frei Pedro Gonçalves. De todas estas talvez a da Senhora do Rosário fosse a mais prestigiada e rica, a avaliar pelo seu altar imponente e de boa talha ao gosto neo-clássico, onde figura uma imagem barroca da referida invocação da Virgem, de grandes proporções e ricamente estofada.

Além das confrarias existiam, ainda, uma série de capelas instituídas, ou pelo menos obrigações de missas, cujas primeiras notícias conhecidas remontam aos inícios do séc. XVI. 
As obras artísticas desta igreja são diversas e consideráveis. Além da já referida capela da Senhora do Rosário, temos a capela do Calvário, onde estão duas imagens que, nitidamente, pertenceram a um conjunto diferente do que se apresenta actualmente. São imagens barrocas representando a Virgem, S. João Evangelista e Cristo crucificado. Outros dois altares laterais, já de finais do século XIX, têm actualmente patentes as imagens de Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora de Fátima. Na capela-mor são de admirar as quatro telas representando cenas da vida de S. Pedro, a obra de talha do retábulo, o sacrário em talha dourada e em forma de templete, e as imagens barrocas de S. Pedro e S. João Evangelista. Ainda na igreja podemos observar o tecto de madeira em caixotões, pintados ao gosto rocaille com os símbolos de S. Pedro e, ao centro, em tela, representa-se a cena do arrependimento do Apóstolo. Nas paredes alguns painéis de azulejos setecentistas representando cenas bíblicas. Sob um arco junto à entrada está a imagem do Senhor dos Passos e, no lado oposto, a pia batismal. No coro, além de várias peças de talha dourada que aí se guardam, vemos duas pinturas de grandes dimensões (séc. XVII [?], uma dela representando um Ecce Homo). Na sacristia o arcaz grande que aí se encontra é de 1880, mas com um lavor acentuadamente barroco.

Há a registar, como mera curiosidade, que a cobertura exterior da torre sineira é revestida a azulejos policromos do século XVII, sendo provável que sejam provenientes do interior da igreja, antes das obras de ampliação. Por sobre a porta do lado Sul, vemos uma imagem de S. Pedro, em pedra calcária, que segundo alguns autores é do séc. XVI; infelizmente pela sua exposição prolongada ao meio atmosférico, sobretudo nestes últimos anos em que o teor de poluição é muito elevado, esta peça tem-se vindo a degradar com rapidez, deve ser retirada para um local mais seguro.

Ermida de São Sebastião

Esta ermida, cuja origem parece remontar ao século XV ou início de XVI, situa-se no extremo Norte da vila, sobre as ribas, mas ainda isolada do tecido urbano, como podemos observar na imagem (em que o templo se encontra ao fundo, do lado direito).
É um edifício de aparência muito singela, de planta exagonal e cúpula em gomos, que tem adossado um outro corpo formando as sacristias e o altar (já do século XVII).

Contrastando com a simplicidade exterior e com a brandura da cal, o interior é de grande riqueza e colorido, formado por um revestimento quase completo de ajulejaria seiscentista policroma (azul e amarelo) criando padrões decorados com motivos vegetalistas e geométricos de grande efeito estético.
É de notar que a arte da azulejaria foi, durante todo o séc. XVII, bastante desenvolvida, nomeadamente com a decoração de espaços religiosos. Além da ermida de S. Sebastião podemos, ainda, mencionar o revestimento da capela de Santo António, também do séc. XVII e, como mera curiosidade, acham-se vestígios de outros azulejamentos na cobertura exterior da torre sineira da igreja paroquial e na sacristia da capela da Misericórdia (onde foi primitivamente a capela do Espírito Santo). Por todo o concelho de Mafra há variadíssimos e ricos exemplares de ajulejaria desta época, merecendo referência, entre outros, a igreja de Santo Isidoro (a 4 Km. da Ericeira).

Ainda no interior da ermida podemos admirar um trabalho de embutidos de pedra, executado a partir de 1678, visto ser desta data a autorização de D. Luís de Sousa, arcebispo de Lisboa, para a feitura de obras e ampliação do tempo. Este novo altar veio substituir o anterior que estaria situado, provavelmente, no interior do polígono e não em construção anexa como presentemente se encontra. Bento Franco descreve-nos este espaço da seguinte forma:”o altar, separado do retábulo e permitindo a passagem por detrás, é em alvenaria maciça com seu frontal em azulejos do mesmo tipo do das paredes, sendo a banqueta em mármore rosa com moldura simples”.

“Do retábulo sobressaem quatro colunas de fustes lisos cilindro-cónicos, com bases e capiteis em bolacha, colunas que suportam um entablamento com arquitrave, friso e cornija bem proporcionados. Sobre este entablamento assenta um tímpano em frontão semicircular cortado por gomos, tendo como fecho uma pequena mísula. Nos mármores deste conjunto misturam-se os três tons: branco, rosa e amarelo oca. Entre as colunas, para dentro e para fora delas e em toda a base do retábulo, a parede de fundo é forrada com placas de mármore com embutidos em várias cores, umas com figuras geométricas, outras com desenhos tipo renascença ao gosto italiano e ainda outras com filetes em traços simples. No centro do retábulo existe o nicho com a imagem de S. Sebastião, de escultura muito perfeita, que deve ser do século XVIII e que está sobre uma peanha de mármore branco com filetes embutidos em azul escuro de traço fino”.

A ermida foi sede de confraria composta unicamente por rapazes solteiros, e até 1968, teve as tumbas dos Irmãos, depois transferidas para a capela da Misericórdia em conjunto com as da paroquial.

Pormenor curioso da história deste tempo, são as diversas proibições de bailaricos e outras festas que “devassavam” o templo, sobretudo por ocasião das celebrações em honra dos padroeiros S. Vicente e S. Sebastião, realizada a 22 de Janeiro.
Jaime Lobo e Silva, n’ A Roda do Ano, descreve-nos a procissão em honra do Glorioso mártir S. Sebastião que, no dia 2 de Janeiro, era conduzido à paroquial.”Esta procissão era feita quase em passo acelerado, esbofando os da música que, apesar do tempo ser quase sempre fresco, chegavam ao fim encharcados em suor (…)”. No dia 22 a imagem regressava à ermida, depois de vários dias de arraial em que participavam muitas pessoas de terras e casais vizinhos.

Capela de Santo António e Nossa Senhora da Boa Viagem


A capela hoje conhecida como “de Santo António”, de modestas proporções e tecto abobadado, situa-se numa plataforma sobre a Praia dos Pescadores, formando o epicentro da progressão urbana da vila.

A função deste edifício não se cingia ao culto, mas servia, também, como “farol”, assinalando nos temporais a entrada do pequeno porto natural que forma a Praia dos Pescadores, servindo-se, para isso, de um sino e de uma lanterna colocada num nicho na parede do lado poente.

Sobre a história desta pequena capela pouco sabemos, sobretudo anteriormente ao séc. XVII. Alguns dados apontam no sentido de ser coeva à Igreja Paroquial (séc. XIV ou XV), mas não restam vestígios materiais dessa época.

Ao certo sabe-se que este local de culto foi capela de Câmara, próximo do primeiro Paço do Concelho (que, após deliberação camarária de se construir um novo paço de audiências e cadeia em 1644, foi transferido para o actual Largo do Pelourinho, no mesmo local onde funcionou a Câmara até à sua extinção em 1855).

Sabe-se, ainda, que, em 1609, já era sede da confraria de Nossa Senhora da Boa Viagem dos Homens do Mar, e nela decorriam as suas sessões. Além desta confraria havia uma outra dedicada a Santo António. É curioso notar que esta capela tem duplo orago, ambos com o mesmo grau de importância.

Em 1645 foi revestida a azulejos policromos, ainda hoje conservados, formando padrões diversos, dos quais se destaca, por sobre o arco triunfal da capela, um pequeno registo de Nossa Senhora da Boa Viagem com o Menino, rodeada de seis cabeças aladas de anjos, com os monogramas de Cristo, Maria e José, e datado de 1634.

O actual edifício é já do século XVII, talvez por ampliação de um anterior, mas por diversas vezes sofreu obras, entre elas em 1664, data gravada nas portas de frontaria; em 1844, por iniciativa de Francisco José da Silva Ericeira (último presidente do município); nos primeiros anos deste século, por iniciativa da Junta de Paróquia; e, mais recentemente, no ano de 1993, quando se restaurou a talha, pintura e douramento do retábulo.

De entre outras obrigações de culto, teve esta capela, a obrigação de rezar missa dominical em memória de D. Maria Catarina de Brito e Sousa de Noronha, viúva de João Sequeira Gorjão, falecida no ano de 1708, uma das representantes do morgadio da Ericeira (cabeça de condado). No final do séc. XVII havia nesta capela uma imagem de Santo António, propriedade de Francisco Lopes Franco, que por testamento a deixou à Misericórdia: imagem essa que viria a ser restaurada e redecorada em 1761 pelo pintor de Cascais Manuel António de Góis. Havia, ainda, uma imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, de grandes proporções, mas foi destruída e deitada ao mar num acto de vandalismo ocorrido na noite de 22 para 23 de Janeiro de 1912. Desta imagem apenas restou uma mão que deu à costa, estando presentemente recolhida no Museu da Ericeira.

Actualmente existem na capela seis imagens, sendo de destacar as três que se encontram encerradas no nicho do retábulo: ao centro Nossa Senhora da Boa Viagem, do lado esquerdo S. Vicente e, do lado direito, a imagem de Santo António, todas estas do século XVIII, de pequenas proporções, em madeira estofada com grande primor e graciosidade. Além destas existe outra de Santo António (séc. XX), de S. Pedro e de uma outra santa (ambas do séc. XVIII).

Fazia-se, tal como em tantos outros pontos do país, nomeadamente na região da Extremadura, uma procissão em honra de Santo António, no dia 13 de Junho, e festejos populares que não dispensavam a típica fogueira, que aqui tomava grandes proporções (o que não permitia o “saltar à fogueira” como em Lisboa).

Capela de Santa Marta


A ermida de Santa Maria, situada ao Sul da vila sobre uma plataforma rochosa, hoje ajardinada, é um templo de razoáveis proporções muito ao gosto setecentista.

Há notícias de uma ermida antiga, com o mesmo orago, que estaria a ser edificada por volta do ano de 1484, situada um pouco mais próximo do mar, junto às furnas, no interior do perímetro compreendido pelo actual Parque de Santa Marta; mas foi demolida após ter entrado em ruína motivada por anos de abandono.

Em 1760 iniciou-se a construção da actual capela, talvez devido à crença profunda na invocação da Senhora das Necessidades, que também era patente na ermida. Tal como na capela de Santo António, este templo manifesta uma duplicidade no orago, apesar de, desde sempre, prevalecer o título de Santa Marta.

Existe uma lenda, referida por Frei Agostinho de Santa Maria no seu Santuário Mariano, que nos relata o roubo de uma imagem de Nossa Senhora das Necessidades existente nesta ermida, no ano de 1599, e que foi levada por um casal de tecelões para Lisboa, onde edificaram, em Alcântara, uma capela com essa invocação e que, mais tarde, veio a dar o nome ao bairro e ao palácio dito “das Necessidades”. Este furto foi executado em virtude da imagem ser considerada milagrosa, sendo a fé acrescida nos anos em que havia peste. Frei Agostinho de Santa Maria descreve o episódio da seguinte forma:”Pelos anos de mil e quinhentos, e noventa e nove, ouve na cidade de Lisboa huma taõ terrível peste, e mortal contágio, que delle morriaõ cada dia setecentas, e mais pessoas; por cuja causa, todos os que puderaõ fugir da Cidade a lugares sadios, e livres deste cruel açoute do Ceo o fizerão; entre estes havia dous casados em a Freguesia dos Anjos, e ambos tecelões, os quaes […] deixando o seu pobre cabedal se retiràraõ à Ericeira […]. Frequentavaõ estes dous consortes huma Ermida de Nossa Senhora, que em algûm tempo devia tambem ser casa da Saude […]. O voto que fizeram, foi o de servirem como ermitães nessa pobre capela acaso a sua saúde fosse conservada, o que assim aconteceu. Desta feita, ao regressarem a Lisboa, pretendendo cumprir o seu voto à imagem, levaram-na consigo, metida num saco para que não ser vista. Chegando a Lisboa “assentando em os arrabaldes do Occidente aonde chamaõ a Pampulha […] escolheraõ o sitio de Alcântara, em que ao presente he venerada”. Para o efeito escolheram um local onde erigiram uma pequena ermida, sendo que, desde aí, houve grande afluxo de devotos que atribuíam à imagem numerosos milagres.
Se, ao certo, este facto aconteceu não sabemos, mas é provável que haja um certo fundamento de verdade, apesar de não existirem provas documentais coevas.

Podemos, ainda, aferir outros pontos de interesse, sobretudo no que toca à referência da ermida como casa de saúde, o que tem alguma lógica se tomarmos em consideração a que, já no século XVI, nos aparecem referências a “águas milagrosas”, associadas a casas de recuperação (a primeira delas nas Caldas da Rainha); e que curiosamente a primitiva ermida estaria localizada muito próximo da nascente de águas minero-medicinais ditas de Santa Marta (muito apreciadas no século XIX e princípios de XX, mas presentemente não exploradas).

Da primeira ermida nada se conhece, nem mesmo a sua localização, precisa. Relativamente à imagem da Senhora das Necessidades, ao que consta, esta foi levada para a Patriarcal no tempo de D. João V e aí desapareceu no incêndio deflagrado em consequência do terramoto de 1755.

A actual capela, de linhas elegantes e simples, transpõe para o interior o gosto artístico da segunda metade do séc. XVIII, inclusive na talha dourada e policroma do retábulo, já com bastante leveza, e nas imagens, de médias proporções, que ainda hoje apresenta. Ao centro encontra-se a imagem de Nossa Senhora das Necessidades, sobre nuvens em que aparecerem três cabeças de anjo, segurando ao colo, com a mão esquerda, o Menino e, com a mão direita, uma vara-tocheiro, onde se encontra uma vela; do lado do Evangelho a imagem de Santa Marta (estofada tal como a anterior), tendo aos pés um dragão que segura por uma fita com a sua mão direita e, com a esquerda, abraça uma cruz; por último, ao lado da Epístola, uma imagem de Santa Lúzia (já posterior).

Esta capela, ou ermida, foi sede da confraria das raparigas solteiras, e daqui se realizavam algumas procissões e festejos, nomeadamente em honra das invocações aí patentes, mas que acabaram por se perder após uma integração nas cerimónias do dia de S. Pedro (orago da paróquia).

Capela da Misericórdia

A capela da Santa Casa da Misericórdia localiza-se geograficamente num perímetro que, à época em que foi edificada, deveria corresponder a uma fase limite no desenvolvimento da estrutura urbana da vila e, simultaneamente, integra-se num conjunto em que estavam representados os poderes da terra: ao lado, estavam instalados os Paços do Concelho, tendo em frente um largo com o pelourinho; a cerca de 150 m. (Sudeste) estaria o palácio dos condes da Ericeira (cuja demolição foi finalizada em 1931); à mesma distância (para Nordeste) a igreja paroquial, que ainda no séc. XVII era tida por muito “distante” da vila e, por isso, a Misericórdia diversas vezes acolheu o Santíssimo.


O presente edifício foi erigido sobre a capela do Espírito Santo, de administração popular (através de uma irmandade cujos membros da Mesa eram eleitos pelos oficiais do concelho), tendo sido confiada a Francisco Lopes Franco para aí ser instalada a Misericórdia, num processo em tudo semelhante ao das suas congéneres, que quase sempre foram criadas com base nas irmandades do Espírito Santo, por serem as mais ricas e as mais vocacionadas às obras de assistência e enfermos, mendigos e peregrinos.

Da antiga capela do Espírito Santo pouco se conhece de concreto, sendo provavelmente de finais do séc. XVI, segundo alguns documentos de carácter administrativo. A sua localização exacta corresponde presentemente à sacristia e ao patamar superior da capela da Misericórdia (onde se localizam os altares e sob estes a cripta funerária da família de Francisco Lopes Franco).
A criação da Misericórdia da Ericeira surge por factores diversos, que se prendem ao forte espírito religioso da época, em virtude das acções contra reformistas e por motivos de prestígio social. Assim, a 29 de Dezembro de 1678, é acordado entre a Câmara e Francisco Lopes Franco a instituição da Santa Casa, sendo que a primeira obrigaria os pescadores à doação de uma rede de pescado por embarcação e, da parte do instituidor, um rendimento anual de mil cruzados, tal como se pode ler na lápide testamentária que se encontra na capela:”SEPVTVRA DE FRANCISCO LOPES FRANCO CAVALLEIRO PROFESSO DA ORDEM DE CHRISTO FVNDADOR E PADROEIRO DESTA SANCTA CAZA E DE SEVS HERDEIROS E SVCESSORES A QVAL DOTOV COM MIL CRUZADOS DE IVRO P[ARA] CAPELLAES ESMOLLAS E MAIS DESPEZAS NECESSARIAS NA FORMA DE SEV TESTAMENTO O QVAL FALECEO EM 4 DE MARSO DA ERA DE 1682”.

Francisco Lopes Franco, natural da Ericeira, exerceu na capital do Reino alguns cargos de relevo. Foi procurador dos condes da Ericeira (título outorgado em 1622 a D. Diogo de Meneses, Mordomo-Mor de Filipe IV de Espanha) foi, ainda, arrematador do imposto do carvão, armador de navios à Índia e Brasil, onde adquiriu fortuna: tesoureiro geral dos depósitos da cidade de Lisboa e, no domínio político, teve algum protagonismo nas cortes de D. Afonso IV e D. Pedro II. Em 17 de Outubro de 1670 foi investido no hábito da Ordem de Cristo, recebendo uma pensão anual de 80 000 reis.

O instituidor morreu na freguesia de Santo Elói, em Lisboa, a 4 de Março de 1682, transmitindo o direito de padroado da Misericórdia ao seu sobrinho, Capitão Francisco Lopes Franco, Escrivão das Justificações do Reino em Lisboa, deixando-lhe, ainda, a obrigação de concluir as obras de edificação da Santa Casa e da ampliação da capela; o que de facto aconteceu a 8 de Janeiro de 1688. Foi ainda com este padroeiro que foi reconhecida a irmandade da Misericórdia, através de dois alvarás régios datados de 1 de Agosto de 1695 e 7 de Julho de 1697.

Por morte do segundo padroeiro, em 1706, sucedeu-lhe o seu filho mais velho, o Doutor António Lopes Franco e, por sua vez, o irmão mais novo deste, último padroeiro e primeiro provedor da Santa Casa, Francisco Xavier de Horta Osório Castelo Branco, falecido no ano de 1759, tendo deixado à Misercórdia todos os seus bens a aplicar no tratamento hospitalar de pessoas pobres e no ornato da imagem da Senhora do Rosário.

Após a conclusão das obras gerais da Santa Casa, voltaram-se a fazer beneficiações diversas. Em 1723 executaram-se obras para renovar a sacristia: em 1755 contratou-se para a construção dos altares, o mestre entalhador José de Oliveira, natural da Melroeira (termo de Torres Vedras), arrematando a obra pela quantia de 438 000reis (aos quais se acrescentam mais 24 000 reis); em 1761 celebrou-se o contrato de pintura e douramento do retábulo, altares, púlpito e tecto da capela com os mestres pintores Manuel António de Góis e Sebastião de Carvalho (o primeiro natural de Cascais e o segundo de Barcelos) pela quantia de 200 000 reis; a torre sineira foi construída ainda na segunda metade do séc. XVIII, mas o maquinismo do relógio só foi instalado no início do séc. XIX; daí até ao presente apenas se fizeram intervenções pontuais.

A Misericórdia, absorvendo as incumbências de tratar os enfermos e dar pousada aos peregrinos, integrou em si a irmandade de Nossa Senhora do Rosário, já existente em 1720, mas com estatutos aprovados pela rainha D. Maria I. O primitivo hospital da vila, de que há referências numa acta de vereação datada de 1502, foi transferido para duas sala do piso superior do edifício adossado à capela, entre 1738 e 1740; em 1761 construiu-se um hospital, mais amplo, num quarteirão fronteiro ao da Misericórdia e, por último, foi o hospital transferido para um edifício inaugurado em 1910 na antiga Calçada Real (hoje Rua Prudêncio Franco Trindade), estando presentemente inactivo e alugado ao Estado Português.

Quanto às obras de arte que podemos encontrar na capela, a elas nos referiremos detalhadamente nos capítulos seguintes: no entanto cabe dizer que, apesar de não ser um conjunto notável em termos nacionais, é, sem dúvida, um pólo de grande valor local e concelhio que não tem sido, a nosso ver, compreendido devidamente. Como valor arquitectónico podemos dizer que é bastante expresso de uma forma típica local de construção barroca, apesar da sua sobriedade. No interior há a destacar as pinturas dos altares e dos púlpito; as duas telas sobre as portas da sacristia, uma representando Nossa Senhora da Misericórdia e outra a Visitação; o cadeiral (séc. XVIII) reservado aos irmãos da albergaria (ou hospital); a sacristia afrescada pelo mestre Padilha (séc. XIX) sobre outros frescos mais antigos; etc.

Em jeito de “ponte” para com o capítulo seguinte, relativo ao Museu, cabe aqui fazer uma referência que nos parece importante no que toca à importância das Misericórdias no quadro artístico e cultural do país. De facto estas instituições, quer pela sua dispersão geográfica, quer pelas actividades de ordem religiosa e social que empreendiam, desde cedo tiveram uma grande implantação cultural, quer em termos materiais (com o apelo a artistas), como imateriais (no caso das tradições).

As Misericórdias actuais, pelo estatuto histórico que adquiriram ao longo dos tempos, devem assumir cada vez mais uma faceta nova nas suas atribuições, ligada à promoção cultural nas (e das) comunidades em que se inserem, nomeadamente através do seu património material (móvel ou imóvel) e das suas tradições. Mais do que um dever moral é uma obrigação social conservar a herança cultural que nos foi legada e, sempre que possível, promovê-la e estudá-la. De certa forma foi para isso que, na Ericeira se criou o “Museu Regional”.


Gastronomia



Existem muitos e variados pratos característicos da Ericeira.
Os bolos e doces mais conhecidos e famosos, sendo muito apreciados pelos visitantes são:

Areias, biscoitos de Canela e de Manteiga
Ericeiras
Marés
Moraizinhos
Palomas
Salvadores
Xiquinhos

Se falarmos sobre peixe e marisco, temos bastante para falar. Existem estes, sobejamente conhecidos, nomeadamente:

Açorda de Lagosta
Lombaça (arroz de marisco-caldeirada)
Caneja de Infundice...

Desfazendo algum do mistério sobre a Caneja de Infundice:

A Caneja de Infundice "é um prato de peixe desconhecido no resto do país. Trata-se de um peixe da família do cação com características que só os conhecedores se apercebem facilmente (...) salpicada com um pouco de sal, é embrulhada no estilo de múmia (...) seguidamente, é posto numa casa escura sem janelas e, durante cinco dias deixa-se "curtir"."

Por ser confeccionado de modo tão característico, tem o privilégio de ter versos a si dedicados. Aqui estão dois:

"É um prato merecedor
de vinho com boas regas
Está fora de qualquer hipótese
Ser comido por piegas.

O nosso prato de caneja
é gastronomia pura
Pois só pode ser comido
por gente de barba dura"

Bibliografia:
Câmara Municipal de Mafra, Serviços de Cultura
Concelho de Mafra – Carta do Património – Freguesia da Ericeira

Chouriço Doce à Moda da Ericeira

1. Mistura-se sangue de porco com um pouco
de àgua quente,  farinha de trigo, canela, erva doce e açucar q.b.
2. Enche-se a tripa do porco depois de bem lavada
com a massa obtida.
3. A dimensão do chouriço varia consoante  aquilo que se pretenda.
4. Atado, coze-se em àgua, após o que se põe ao fumeiro.
5. Uma vez curado, serve-se frito às rodelas.

Caneja de Infundice da Ericeira

1. Tira-se a pele da caneja, corta-se em postas presas
ou ligadas pelas barrigas  ou ventrejas, lavando-se (de preferência com àgua do mar limpa), salpicando-se com um pouco de sal, embrulhando-se numa serapilheira
2. (com trapos brancos entalados nos cortes das postas)  e colocando-se a curtir em sitio escuro e
fresco durante cerca de 8 a 15 dias
(de preferência entre Outubro e Março).
3. Coze-se em àgua com sal.
4. É acompanhada com batata cozida com pele,
cortada ao meio e temperada com azeite.
5. Quando bem curtido, o peixe apresenta reflexos de madrepérola.
6. O azeite torna-se branco em contacto com a caneja cozida  e esta exala um acentuado travo amoniacal que provoca  a oclusão das fossas nasais no céu da boca.
7. Acompanha-se com vinho tinto, o qual, por pior qualidade que tenha,  fica com um sabor adocicado como se se tratasse de um vinho adamado.














 
 
 

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