domingo, 5 de dezembro de 2010

SÚBITA MÃO - FERNANDO PESSOA


Súbita mão de algum fantasma oculto
entre as dobras da noite e do meu sono
 sacode-me e eu acordo, e no abandono
 da noite não enxergo gesto ou vulto.
 
  Mas um terror antigo, que insepulto
trago no coração, como de um trono
desce e se afirma meu senhor e dono
 sem ordem, sem meneio e sem insulto.
 
  E eu sinto a minha vida de repente
presa por uma corda de Inconsciente
a qualquer mão noturna que me guia.
 
  Sinto que sou ninguém, salvo uma sombra
 de um vulto que não vejo e que me assombra,
 e em nada existo como a treva fria.

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